Mas Veronica não era uma cortesã comum. Ela era uma **cortigiana onesta**, ou seja, uma prostituta de luxo que unia à sua beleza e distinção uma vasta cultura e um domínio das artes e das letras. Ela era capaz de conversar com os homens sobre política, filosofia, literatura e arte, além de satisfazê-los na cama. Era admirada por pintores, escritores e nobres, que a procuravam como amante e como companheira. Ela foi retratada por Tintoretto em dois quadros que mostram a sua sensualidade e elegância. Ela também frequentava o salão literário de Domenico Venier, um patrono e conselheiro de mulheres escritoras.
Veronica Franco escreveu dois volumes de poesia: **Terze rime** em 1575 e **Lettere familiari a diversi** em 1580. Nestas obras, ela mostra a sua habilidade poética, a sua visão feminista e a sua defesa da virtude das cortesãs. Ela argumenta que as cortesãs são mais livres, autônomas e cultas do que as mulheres casadas ou as freiras, que vivem sob o domínio dos homens ou da Igreja. Ela também critica a hipocrisia da sociedade que condena as cortesãs, mas tolera os vícios dos homens. Para Franco as cortesãs são dignas de respeito e de amor, pois elas oferecem prazer, consolo e sabedoria aos seus clientes.
A querida foi famosinha como cortesã, tanto a ter seu nome citado no "Catalogo de tutte le principal e mais honrado cortigiane di Venetia - publicado por volta de 1565" e seu principal cliente foi ninguém menos que Henry III, Rei da França. Além de bela e famosa, Franco era também uma ativista social e chegou a fundar uma instituição de caridade para cortesãs e seus filhos.
Suas poesias algumas eróticas outras polêmicas atiçavam e faziam dela a enigmática "cortesã honesta" que todos queriam conhecer.
"Tão doce e delicioso eu me torno,
quando estou na cama com um homem
quem, eu sinto, adora e me goza,
que o prazer que eu trago destaca todo prazer,
então o nó de amor, por mais apertado
parecia antes, ainda está amarrado."
-Veronica Franco, Poemas e Letras Selecionadas
Veronica Franco teve uma vida cheia de altos e baixos. Ela teve seis filhos, dos quais três morreram na infância. Ela viveu em palácios luxuosos mas também enfrentou dificuldades financeiras. Conheceu reis e príncipes mas também foi acusada de bruxaria pela Inquisição. Ela sobreviveu à peste, mas morreu pobre e esquecida em 1591. Mas ela deixou um legado de coragem, talento e generosidade que merece ser lembrado e celebrado. Veronica Franco foi uma mulher à frente do seu tempo, uma verdadeira rainha das cortesãs.
